4.30.2009

Corpo em Vigília

CORPO EM VIGÍLIA
(a madrugada anterior à viagem)


Aquela noite fiquei em vigília. Os olhos inchados de tanto chorar não se atreveram a descansar um minuto. Pousados sobre o teu corpo, iluminado pelo luar, eu conferia cada detalhe, reconhecia cada poro da sua pele, cada sinal deixado pela vida, num esforço insano de não me esquecer jamais. Passei horas assim a te observar, a te devorar solitária. Não satisfeita, me fiz abraçar por você. Queria me tornar parte de sua existência, respirar no mesmo compasso. Recolhidos naquela cama de solteiro, apertados, eu tentava deixar um pouco de mim na tua pele, e sorver cada surpiro teu. Acreditava que só assim você levaria para bem longe um pedaço de nós. Meu corpo ardia. Estava quente de desespero, eu exalava um calor de bicho. O coração de mulher avisava: sabia que te perderia para sempre.

(18 de março 2009)