9.05.2013

Para Cristina Tolentino - Ser Mulher Hoje

É como se eu habitasse mundos diversos, que se confundem e se atravessam: alguns se agrupam tão estreitos e conflitantes. Nesses atuo sob regras verticais. Preciso ser fria, exata, ou pelo menos fingir que tenho a certeza cartesiana de que é assim que as coisas funcionam. Me encontro diversas vezes assertiva em situações que nem me pertencem. Tomo decisões tão absolutas, sendo que no fim sou apenas relativa. Nesses lugares fico estrangeira de mim e sempre alerta, com a sensação de eterna vigília, como se não pudesse nunca mais dormir. Esses planos retos me conectam com os mundos de fora, do controle, dos números, das decisões. Em mim, eles se manifestam como uma superfície fina e quebradiça, que envolve o corpo todo. Uma pele frágil que pode se romper a qualquer momento e apenas esconde a outra que também sou eu.

Primitiva.

Há momentos em que ela surge. Essa "outra" se manifesta quando migro para mundos de lógica e densidades diferentes. Neles, respiro e caminho descalça. Sinto a natureza pulsar e permito que o instinto criativo trabalhe livremente. Aqui não tenho pressa, posso adormecer a qualquer momento. Apenas me deixo atravessar por sensibilidades. Deslizo em lugares úmidos, terrenos, horizontais. Liberto os desejos mais íntimos.

E lá vou eu: movediça, escorregadia, nômade, de um plano a outro. Sigo dividida, recortada, estranha. Há algo latente que quer transbordar, mas está doente por nem sempre poder atravessar os limites do absoluto. Ora, algo em mim rompe ideias indissolúveis, ora se mostra frágil. Equilibro o instinto e a razão, num jogo movente e inconstante.

7.02.2013

Entre 2

Entre não é lá, nem aqui.
Está no meio.
Em curso
Nem eu, nem você
Algo de nós.

Entre

Origem...ponto final.
Apenas entre!
Fique à vontade.
A casa é sua.

5.09.2013

Atravessada por pássaros

Cheguei pairando num vento frio e suave. Atravessada por pássaros, senti carícias na alma. De lá, bem longe, trouxe comigo um pouco da poesia da noite. Que noite! Quando algo se ajeita é incrível o ponto de mudança!


4.16.2013

Nada

É estranho. Que semana cheia e curta, ao mesmo tempo.
Começou angústia, virou paz e terminou em vazio.

Mesmo tomada de tristeza sinto certo alívio.

Eu te quis tanto, tanto, que agora sinto que em breve não vou querer mais.

Tudo que fez tanto sentido, agora é nada.



3.31.2013

Encontro

Nos despedimos faz pouco e vim refazendo cada sensação daquele encontro.

O primeiro abraço parecia interminável.


Ali, naquele lugar de excessos, só eu e você, respirávamos no mesmo compasso.
Durou quatro horas. O suficiente para entender que eu mudei, que você de fato é outra, mas que entre nós algo está intacto.



E saber o outro é um entendimento que vai além de qualquer razão.
Fluidez líquida e instantânea. Não há intempéries, acidentes...
É corpo.

Que saudade de me perder nesses olhos negros, interessados, que volta e meia marejavam em movimentos de intensa paixão por histórias que não suas.
E eu te dizia tudo e tanto de mim, porque contigo pareço voar.

E nas pausas, nosso silêncio é feito de confiança e liberdade.
Te amo.

Buon Viaggio!

3.24.2013

Ciça, minha amiga

Nunca te disse. Então escrevo ainda que tarde.

Você gostava muito de me propor coisas novas.
Você me dizia que era porque sabia que eu toparia fazer qualquer coisa maluca que viesse à sua cabeça. Você dizia: "porque eu sei que você topa!"
Em parte, sou mesmo aberta e costuma me aventurar em precipícios.
Por outro lado, quero que saiba que era sua coragem que me contagiava e me fazia acreditar nos projetos mais absurdos.
Te amo, Ciça, e sinto muito a sua falta.

3.19.2013

"Dois Minutos de Amor"

"Dois minutos de amor", trabalho inspirado na performance "Afete-se", foi realizado no dia 8 de março de 2013, Dia Internacional da Mulher, na Praça da estação (BH / MG).
http://vimeo.com/61465910

Outono

Apesar dos atropelos urbanos, a natureza segue seu curso sutil. É viva a mudança das cores e da temperatura do mundo... 

"Atrás dos primeiros menos-calores do estio findo vieram, nos acasos das tardes, certos coloridos mais brandos do céu amplo, certos retoques de brisa fria que anunciavam o outono. "
(LIVRO DO DESASSOSSEGO, Fernando Pessoa)

3.15.2013

do tamanho do desejo

Era tanto amor,
imenso,
que não cabia em mim

Queria mais.
Queimava meu corpo
de um desejo intenso

Sem controle, sem rédeas...
Desculpe, meu amor. Eu te engoli
e perdi as chaves.

1.18.2013

Homem de voz agradável

Homem de voz agradável, sabia que um dia te reencontraria. Só não sabia que ficaria assim, ardendo de amor.

Te amo

Te vi.
Quanto tempo.
Corpo alerta,
arde de amor.

Você de novo
límpido no espaço.
Imenso!
Eu transbordo você.

Afago, mãos, dúvida?
Um beijo, o beijo.
Fúria, loucos, nós,

na água
na cama
Livres!
Selvagens
Orgânicos
Fluidos.

Te amo.

1.02.2013

Feliz Ano novo

Cada instante vivido no próprio instante. Não havia futuro, nem passado em Moreré. O tempo parou naquele pequeno lugar afastado do mundo. Só eu e você. Eu estava inteira, exercendo momentos em um devir romance. E de-repente não sei o que houve. O tempo virou. O céu azulado com lindas colorações de laranja ficou cinzento. Soprou um ventou forte que doeu a espinha. Logo veio a tempestade levando coqueiros, areia e o meu cenário ideal. O povoado e turistas se abrigavam como podiam nas cabanas a beira mar. A fonte de Moreré secou e a ilha ficou sem água. Foi quando olhei pra você. Apresentava tonalidades de cinza também. Só eu parecia colorir com sorrisos a paisagem, que pra mim continuava linda apesar do alvoroço. Queria eternizar aquele momento. Mas não resisti e também comecei a assumir aspectos cinzentos. Acompanhava o seu movimento. Você foi escurecendo, endurecendo. Muitas dúvidas me bateram sobre o amanhã. Veio o remorso: por que escolhi estar ali? Por que você? Meu presente mágico se desfez e o ano começou cinza.