1.29.2010

Pelos 50 anos de Hiroshima no Brasil

Um filme sobre homens comuns, que não venceram nos campos de batalha e que carregam toda a culpa e a memória do mundo. A esses homens foi destinado o eterno retorno ao passado. Um filme para que as gerações futuras não se esqueçam dos horrores e catástrofes desencadeadas pela Segunda Guerra Mundial. Depois de Cidadão Kane de Orson Welles, 1959 é um ano de revolução na linguagem cinematográfica mundial com a estréia de Hiroshima Mon Amour de Alain Resnais. Um ano depois o longa chegaria às salas de cinema no Brasil e seria aclamado pela crítica.

Além desse legado, outra contribuição do filme para o avanço do cinema está na capacidade de Resnais colocar em diálogo, com tanta precisão e estilo, forma e conteúdo. Suas inovações estéticas, como os movimentos de câmera arrojados e as montagens inesperadas, suscitam perguntas, promovem reflexões.

Porém, a verdadeira revolução da arte renaisiana que se consolida na passagem do cineasta dos documentários à ficção, e que irá se perpetuar por toda a sua obra vai além. A inventividade de Resnais reside em um momento anterior à sua criação no cinema. A habilidade do artista está em escutar os anseios e aspirações de seu tempo, e simultaneamente, em parecer que está sempre à frente dele, como um artista solitário, “sem lugar”. O objetivo de Resnais é se posicionar numa atitude de quem provoca e incita mudanças.

“Meu objetivo é por o espectador num estado tal que oito dias depois, ou mesmo seis meses ou ainda um ano depois, ao se ver colocado diante de um problema, o filme o impeça de trapacear e o obrigue a reagir livremente. Preocupo-me em me dirigir ao espectador em estado crítico. Para conseguir isso, tenho de fazer um cinema que não seja natural”. (PINGAUD, SAMSOM, 1969, P.170)

Infelizmente, na sociedade contemporânea há cada vez menos espaço para artistas como ele, que acreditam na arte como um lugar de reflexão. Eles acabam à margem do sistema. Mas não são eliminados, pois esse mesmo sistema precisa de pessoas como Resnais para se renovar.

E assim, este senhor inquieto, com quase 90 anos de idade, segue em frente reinventando a realidade e experimentando com mais liberdade o imaginário e o cinema do século XXI, sem jamais se esquecer de revisitar o passado e a história.

1.24.2010

A mulher que espera



Mal se despediu e mais uma vez se pôs a esperar. Espera incondicional. Há capricho na espera. Solidão na espera. Ela espera sem saber o que a espera. Há amor e caos nos olhos da mulher que espera.

Reality Show

Para onde estamos seguindo? Será que ninguém se dá conta? Tem alguém conscientemente acordado em frente ao televisor? Em tempos de reality show, todos parecem dormir. Acordem! Onde estão vocês? Onde está o mundo? Olhe para o lado! Provoque o outro, provoque a si mesmo!

Procuro um sabor distinto...


Desejo provar um sabor distinto, desses que não se prova em qualquer feira. Desses sabores escassos, de sensação indescritível, que só se encontra na vida por acaso, sorte. Um sabor refinado, que só se experimenta uma vez. Nem todos almejam prová-lo! Seja por desconhecerem a sua existência ou mesmo pelo desagradável dissabor de não conseguirem viver sem ele, depois de encantados. Fato é que muitos passam em branco, sem nunca terem desfrutado esse prazer. Pelo menos é o que contam os poucos que dele provaram. Dizem ainda, esses sortudos, que não há regra; que se reconhece o sabor em qualquer idade, em qualquer tempo, e com os olhos revirados acrescentam ser sublime esse momento!

Às vezes me pergunto se esses sabores realmente existem e não são uma invenção sedutora do imaginário alheio. Bem, sempre altruísta, prefiro acreditar que a vida está cheia desses sabores sutis e raros. E que cada um tem o seu em algum lugar guardado. Mesmo sem conhecer o meu, sei que ainda não o encontrei. E se algum dia de sobressalto isso acontecer, saberei exatamente que degusto um sabor peculiar. Saberei que o achei, e que jamais, jamais vou esquecê-lo!

1.21.2010

Andarilha

Andou como se não existisse tempo.
Andou num estado de quase sem rumo, por inércia.
A cada passo deixava um pensamento e seguia leve, cada vez mais leve, levíssima e livre...

"Fragilidade: teu nome é mulher"


A mulher sentada no sofá tem os joelhos descobertos.
Quieta, silenciosa, doce...
O olhar vago, insinuante, lhe dá um ar indestrutível.

Escorre suave uma lágrima. O sal corrompe e corrói docemente todas as estruturas, todas as articulações, todas as possibilidades da vida ter um sabor diferente.

A mulher acorda e por mais que ajeite os cabelos permanece com eles impecavelmente despenteados - não por moda. Ela cobre os seios para que não pareça ser quem realmente é. E trabalha, trabalha, trabalha até o fim dos seus dias, administrando a vida sem destino certo, sem saída. Está acoada como um bicho e terrívelmente frágil diante de sua própria fortaleza.

1.10.2010

Desencanto e Silêncio

O silêncio rompe as barreiras da indiferença que se instala grave. Curioso: não sinto nada. Só o desencantamento do mundo. Foi assim: tanto para nada.

Em crise

O problema não é a arte, o teatro. Com eles vai tudo bem. A questão é estar disposto a dedicar-se tanto tempo àquilo que não é valor para o sistema. O artista, tão supérfluo, tão pobrinho, tão apaixonado, tão cheio de ilusões segue o seu curso e alimenta-se de algo inexplicável, que só quem verdadeiramente conhece o ofício entende a devoção.

Em processo


De uma inquieta inquietude ela reinventa a própria inquietação.

Do sabor ocioso do ócio recria os meandros da criação.

E a atriz faz do dia tedioso, movimento e inspiração!

1.03.2010

Movimento é o que desejo!

Movimento é o que desejo! Movimento às margens do Rio. Se nele não posso estar, que a vida não deixe de correr porque pertenço às margens.

Solitária e Tranquila à Margem

Sou à margem mesmo. E daí? Quem não é? Muitos como eu se avolumam às margens e viram cada vez mais maiorias solitárias. Para estar no sistema, rio que avança impetuoso, são tantas as regras, que se torna difícil e injusto cumpri-las. Aceito minha posição marginal! Cansei de achar que todos precisam amar o pouco que tenho a oferecer. O imaginário não pertence ao sistema. Doce ilusão! Sem ilusões e sem tristeza, me despeço de uma fase que se encerra. Em crise, me adentro em outra. Humilde e consciente aprecio o rio correr. Estou em movimento: eu me transformo para algo que me aguarda e desconheço. Foi necessário percorrer tanto caminho para reconhecer que o ideal não passa do ideal.