4.30.2009

Carta ao Amante

O Último Lamento

Este escrito não é um poema como os outros. São breves palavras, talvez as últimas que escrevo sobre nós. Agora são 19h49 do dia 13 de dezembro de 2008, sábado. Da minha janela uma chuva desliza fina sobre as folhas das árvores. Reúno fotos, escritos, os poucos registros de nossa história na tentativa de me refazer.

Ao revisitar estes momentos reencontro um frescor já esquecido. Meus pensamentos se projetam longe. Recupero imagens preciosas, sensações adormecidas, que agora me enchem os olhos de lágrimas e o peito de um turbilhão impreciso de alegrias e tristezas. “Que seja doce” dizia o poeta. Repito ainda afoita, “que seja Doce!”. Aos poucos, cesso o lamento e já quieta, como uma flor, peço: “que seja doce” a separação.

Agora choro frágil todo o amor, todos os instantes, toda a agonia semeada, como se tentasse entornar a dor. Quando a tempestade cessar, um silêncio paira para o meu alívio. Ele é agudo, estranho, real, o ar está parado.

Espero paciente, ainda que contra meu furioso instinto. Quero acreditar que logo o instante será leve e fugidio. De-repente a noite se despede do dia, que amanhece imenso. O sol me entorpece de brilho e força. O peito começa a acalmar-se e os olhos já apreciam a vida. O que sufocava perde o sentido e, não mais amantes, agora eles são ilustres desconhecidos. Seguem caminhos distintos, retomam suas vidas. Entretanto, ainda que demonstrem novas cores no olhar, os amantes foram marcados. Os dois de antes, apaixonantes, delirantes, inconstantes não saíram impunes. Caminham sem poderem jamais apagar o quanto foram cúmplices do amor.

Eu te amo, meu amor, com toda a delícia e fúria e com toda a certeza de que fui tão feliz e infeliz. Sei o quanto fui sua, minha, nossa, cega e lúcida, como um oráculo. Como fui mulher, mãe, histérica, louca, apaixonada, em paz.

Aqui um relato apaixonado e triste de quem amou sem esforço, sem preguiça, sem condições. De quem ama porque vê beleza ao dizer que ama. E de quem com a mesma intensidade, também renuncia a este amor, que me arrasta até sugar minhas últimas forças, até consumir meu último orgulho, meu último brio. Minhas últimas palavras!

(13 de dezembro 2008)