9.05.2013

Para Cristina Tolentino - Ser Mulher Hoje

É como se eu habitasse mundos diversos, que se confundem e se atravessam: alguns se agrupam tão estreitos e conflitantes. Nesses atuo sob regras verticais. Preciso ser fria, exata, ou pelo menos fingir que tenho a certeza cartesiana de que é assim que as coisas funcionam. Me encontro diversas vezes assertiva em situações que nem me pertencem. Tomo decisões tão absolutas, sendo que no fim sou apenas relativa. Nesses lugares fico estrangeira de mim e sempre alerta, com a sensação de eterna vigília, como se não pudesse nunca mais dormir. Esses planos retos me conectam com os mundos de fora, do controle, dos números, das decisões. Em mim, eles se manifestam como uma superfície fina e quebradiça, que envolve o corpo todo. Uma pele frágil que pode se romper a qualquer momento e apenas esconde a outra que também sou eu.

Primitiva.

Há momentos em que ela surge. Essa "outra" se manifesta quando migro para mundos de lógica e densidades diferentes. Neles, respiro e caminho descalça. Sinto a natureza pulsar e permito que o instinto criativo trabalhe livremente. Aqui não tenho pressa, posso adormecer a qualquer momento. Apenas me deixo atravessar por sensibilidades. Deslizo em lugares úmidos, terrenos, horizontais. Liberto os desejos mais íntimos.

E lá vou eu: movediça, escorregadia, nômade, de um plano a outro. Sigo dividida, recortada, estranha. Há algo latente que quer transbordar, mas está doente por nem sempre poder atravessar os limites do absoluto. Ora, algo em mim rompe ideias indissolúveis, ora se mostra frágil. Equilibro o instinto e a razão, num jogo movente e inconstante.

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