8.23.2009

O Tempo de um olhar

Eu estava distraída, como de costume. Atenta a tudo e a coisa alguma. Ele falava e eu alheia procurava por novos interesses. Passei ligeira os olhos por aquele ambiente de fumaças e música. E nada me arrebatava. Foi então que senti um calafrio prazeroso. Algo me atraía a atenção. Vinha do meu lado direito. Da direção do banheiro - já por aí um tanto inusitado. Eu me senti acariciada lentamente, sem sofrer o toque. Até então, imóvel e desatenta ao papo entediante de um amigo, fui conduzida por aquela sensação estranha e sensual, que me impelia a volver a cabeça. Quando consegui me mover descobri que era desnudada lentamente por um olhar dissecante, envolvente. Um olhar de homem. Daquele homem que não via há séculos e que poderia passar mais alguns sem vê-lo. Mas naquele dia eu o enxerguei por inteiro. Depois não o vi mais. Mas guardo na memória o instante, o tempo de um olhar.